segunda-feira, outubro 02, 2006

Dia Mundial da Arquitectura

(c) Paulo César. En construción

(c) Augusto Brito. Azul


8 comentários:

Anónimo disse...

A arquitectura vai além do pragmatismo do encontrar um tecto para viver. É conseguir conviver com conceitos, viver, amar, comer, respirar, dormir em espaços que nos fazem sentir o porquê de sermos humanos e não apenas animais protegidos das intempéries por casotas. Infelizmente, muitos dos espaços que habitamos são padronizados, construtor-civilizados e não fruto de arquitectura enquanto espaço charneira entre pragmatismo e vivência de valores estéticos no dia-a-dia. Vivemos num mar de casitas que, na melhor das hipóteses são de estilo 'Português Suave', com as pérgolazitas, as janelinhas quadriculadas e as barrinhas amarelas a despropósito. É o 'rústico para citadinos ou pseudocitadinos de sucessozito moderado com acesso a crédito. Enfim, desculpe-me a acidez do comentário mas acho que estamos, muitas vezes, em termos arquitectónicos, no estado em que estamos no panorama, por exemplo, televisivo. Vivemos em Floribelas e trabalhamos em Morangos com Açúcar. Nas férias, vamos para as Quintas das Celebridades, como se isso fosse sonho que se preze do nome. Uma habitação que represente um ousado exercício de especulação arquitectónica é visto como uma espécie de pintura abstracta de um autor famoso: vale dinheiro, os intelectuais acham que é o máximo mas para o cidadão anónimo acha que é um borrão sobrevalorizado na harmonia da paisagem... Tanta educação, tanto inglês na escola, tão pouca educação virada para a sensibilização à vivência de valores estéticos. Queremos e temos direito a um mundo melhor, no qual apreciar as coisas não seja um privilégio de elites.

Lana disse...

tem razão Baudolino ... mesmo que essas coisas sejam da mais simples beleza arquitectónica como uma casa reconstruida no portugal profundo.

Anónimo disse...

Exacto! Recuperações a sério, simples mas a sério, sem pseudo-modernidade-contemporaneidade.

jguerra disse...

A arquitectura tem por funcção, em minha opinião, tornar espaços funcionais, para o homem habitar, trabalhar, divertir, etc., com qualidade (em todos os sentidos), sem descurar pertenças culturais.
No entanto,parece-me, porum lado, que os arquitectos em Portugal não produzemmuito. Existem muitos engenheiros civis a fazer o trabalho deles. Por outro, existem vários projectos de arquitectos (e incluo aqui opaisagísticos) que criam espaços muito pouco funcionais, sem aquecimento, ou com poucas janelas, ect. porque acham que a estética deve prevalecer, querendo ficar com projectos que marquem a sua presença. Neste sentido,acho que é uma arte mais egoísta que as outras. As restantesnãomeincomodam, não me obrigam a tê-lo se o não quiser.
Não percebo, por exemplo, porque não se coloca aquecimento só porque os aparelhos destoarão no resto do projecto que se quer moderno... Depois andamos todos de casaco... Estão aer alunos adolescentes e mais novos aprenderem alguma coisa com frio?

Esperoque me tenha feitoentender... nem tudo é assim, mas pergunto-me, para dar mais um exemplo,se é funcional ter uma estação onde levocom chuva, vento, frio quando espero um comboio... Sabem ao que me refiro.

Anónimo disse...

Mas esse é justamente o problema. Quando falo de pseudo-modernidade-contemporaneidade, refiro-me a maus projectos. Se não se consegue adequar o espaço à sua vivência, é um exercício barroco no pior e mais estereotipado sentido da palavra. Como excelente exemplos de estéticas mais ou menos minimalistas que resultam em espaços onde pernoitar é um consolo para a alma, destacaria os exercícios de Carrilho da Graça na Pousada da Flor da Rosa (Crato) e de Souto Moura em Santa Maria do Bouro (Amares).

jguerra disse...

Não conheço esses edifícios. Mas fiquei curioso.

Anónimo disse...

Valem bem a pena. Não são baratos mas há promoções interessantes e há a época baixa. No Inverno, a posada da Flor da Rosa, perto do Crato, é um primor de conforto e de sossego. A de Amares é fantástica porque foi recuperada de forma a manter traços de edifício em ruína (já a repeti!). Enfim, valem a experiência. Há muitas outras. Destas, como tb a de Alcácer do Sal (embora mais estereotipada na intervenção), falo porque já lá fiquei e repetiria à saciedade, não fossem os custos, excessivos para um Baudolino como eu...

jguerra disse...

Obrigado pelas sugestões. Terei em conta numa próxima deslocação.