Quando o silêncio dorme,
nós apagamos um pouco da nossa memória,
esperamos deixar espaços em branco,
rogamos que nos esvaziem memórias.
Quando o silêncio grita, clama,
por um pouco de companhia,
por umas poucas palavras
que nos guiem, nos orientem, nos encaminhem.
Quando o silêncio dorme,
vemos passar o nada, o vazio,
a solidão que nos empurra para grandes espaços
que nos agrilhoa
Quando o silêncio é silêncio,
na alma do nosso corpo,
no espaço da nossa memória
que tudo guarda, tudo fotografa,
tudo encaixa no nosso cérebro inconsciente de si, de nós, de todos.
Quando o silêncio dorme,
sinto-me acompanhado,
sinto-me não só, nesta vida
que nos quer solidão.
Quando o silêncio dorme,
apago momentos de memória,
construo outros recalcados,
deixo-os invadir a minha não solidão.
Quando o silêncio se quer silêncio,
pois para quê palavras.
Deixo o olhar cruzar olhares,
deixo-me ao abandono de mim.
Quando o silêncio dorme,
sorrio para o mundo.
Quer dizer que estou aqui,
que estás aqui, que me acompanhas,
que me guias, que me falas.